Eu acho difícil falar de mim
(ou Por que eu tenho esse site)
(ou Por que demora tanto pra eu atualizar esse site)
(ou Por que essa postagem é tão curta)
2024/08/30
Isso é algo que eu tenho que lidar desde que eu me entendo por gente. Eu não consigo falar sobre mim. Toda vez que eu tento, eu sinto algo muito ruim que eu não consigo descrever. Não é repulsa, não é medo, não é tristeza. É um tipo de desespero, um pânico, um macaquinho psicopata que fica gritando na minha cabeça que eu não posso falar sobre mim mesmo porque isso é ruim. "Para, para agora! Fala de outra coisa" diz o macaquinho. E eu não consigo parar de ouvir ele. E se eu continuar falando, o macaco grita mais e mais e mais alto, até eu começar a chorar e não conseguir falar mais. Mas normalmente eu paro antes disso acontecer, porque eu também não costumo chorar.
Quando eu era criança, costumavam mandar eu ficar quieto toda vez que eu tentava falar alguma coisa (e como a maioria das crianças, normalmente eu queria falar sobre mim ou algo que eu gostava), então talvez esse seja o motivo que eu não consigo falar sobre mim.
Por isso eu tenho esse site. Aqui é o lugar que eu falo sobre mim pra ensinar o macaco a não ficar gritando na minha cabeça. Eu sei que falar sobre mim para os outros é algo que eu tenho que fazer pra me relacionar de verdade com as pessoas. Então esse macaco não vai me parar.
Por isso que demora tanto pra eu atualizar esse site. Eu ainda tô treinando o macaco. Ele ainda grita. É difícil falar sobre mim mesmo por texto. Mesmo pra estranhos na internet. Mas espero que fazer isso ensine o meu macaquinho psicopata a calar a bolca, talvez até sair da minha cabeça pra sempre.
Por isso essa postagem é tão curta. Se eu conseguisse (e eu vou conseguir), eu escreveria mais.
Comigo me desavim,
sou posto em todo perigo;
não posso viver comigo
nem posso fugir de mim.
Com dor, da gente fugia,
antes que esta assim crescesse:
agora já fugiria
de mim, se de mim pudesse.
Que meo espero ou que fim
do vão trabalho que sigo,
pois que trago a mim comigo
tamanho imigo de mim?
- Sá de Miranda